Frotas de autocarros são "ferro-velho da Europa"
Portugal "está a transformar-se no ferro-velho da Europa. Compra à Alemanha, Suécia, Holanda e outros países nórdicos autocarros com dezenas de anos, que já estão para ser abatidos, mas ficam a circular cá", denuncia o sindicalista Vítor Pereira, da Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos. Salienta que em dez anos, entre 1996 e 2006, "entraram 4115 autocarros em segunda mão".
Segundo dados do Instituto da Mobilidade dos Transportes Terrestres (IMTT), a que o DN teve acesso, em Portugal entram, em média, 300 autocarros usados por ano. Em 1999, esse número disparou para 541. Entre as viaturas adquiridas conta-se uma de 1948, além de 59 de 1962 , uma de 1969, duas de 1970, duas de 1976 e 57 de 1982.
Embora fontes de transportadoras e do IMTT não admitam haver viaturas tão antigas em serviço, motoristas de autocarros dizem ao DN que "os TST - Transportes Sul do Tejo compraram carros já com 16 e 18 anos, da Alemanha, Holanda ou Suécia, que até estão bem estimados por fora, mas os motores têm mais de um milhão de quilómetros e o sistema de segurança e de travões está debilitado".
"Como esses carros vêm de climas frios, as janelas não abrem, mas têm ar condicionado. No Verão, com quase 40 graus, até desmaiam pessoas com o calor. Não se liga o ar condicionado, porque consome mais combustível", explicam. "Há muitos carros com problemas. Temos de fazer acrobacias para não causar acidentes", referem. E alertam ser "estranho carros sem condições passarem na inspecção".
O sindicalista Vítor Pereira dá o exemplo de "um autocarro Volvo de 1984, que veio da Holanda para Portugal em 2001 e entrou ao serviço numa empresa de Espinho". Sublinha que "no Norte, a situação é pior", e fala nas frotas da Rodoviária de Entre Douro e Minho e da Rodoviária da Beira Interior. O DN contactou as duas empresas, mas não obteve resposta a tempo.
Vítor Pereira diz ser "inadmissível o Estado atribuir subsídios às empresas de transportes colectivos e depois não fiscalizar o serviço que prestam. Alteram horários e percursos, retiram carreiras e circulações. O dinheiro não pode ser dado de olhos fechados".
O administrador dos TST, António Corrêa de Sampaio, refere ao DN que a sua frota tem "608 autocarros com uma idade média de 15 anos e circulam diariamente 530 viaturas". Esclarece que o Estado tem atribuído "subsídios para dois veículos novos por ano. Como o cash flow disponível não é suficiente para a quantidade de carros novos necessários, a empresa adquire usados, mas não com 16 e 18 anos".
Nessas viaturas "são substituídas as janelas e instalados aparelhos de ar condicionado, com directrizes para serem ligados. Têm custos de manutenção e de consumo de gasóleo francamente inferiores aos autocarros que vêm substituir, com mais de 20 anos".
Explica que "todos os autocarros são submetidos a inspecções de seis em seis meses e há um sistema de manutenção protocolado com intervenções a cada dez mil quilómetros".
Um bom exemplo no sector é dado por Fernando César, gerente da Scotturb (opera entre Oeiras e Sintra) e da Vimeca (entre Lisboa e Sintra): "A nossa política é comprar viaturas novas a estrear, porque apostamos na qualidade e na eficiência do serviço. Para o primeiro semestre de 2008 já encomendámos 50 autocarros."
A Scotturb "tem 125 viaturas com idade média de três anos, a mais nova do País. As viaturas vão embora, no máximo, com sete anos", explica.
"Pelo preço de um autocarro novo - 165 mil euros - pode-se comprar quatro ou cinco usados", diz Fernando César. Salienta que "devia haver legislação para limitar em quantidade e idade a importação de usados, como já se faz em Espanha e França, senão isto torna-se numa sucata. Não está certo irem lá fora comprar autocarros com 17 e 18 anos e pô-los a circular aqui".|